quarta-feira, 17 de março de 2010

DOR

Quando chega a hora daquele que em meu ventre, maduro se encontra, nos deparamos com inúmeros obstáculos que juntos iremos passar.
Já não basta a dor da separação, depois de nove meses junto, compartilhando o que em nós existe.

Passamos por privações, farturas, alegrias e tristezas.
Compartilhei o que de melhor existia em mim, para que a vida fosse reproduzida.

Chego ao local que me aguarda e, assustada estou por ser um mundo fechado e inacessível.

Entrego os meus pertences, me deixam nua. Visto uma "comum" e perco a identidade. Separam-me dos que me dão segurança. Sou chamada por um número de leito, um procedimento ou simplesmente "mãezinha", quando carrego no ventre alguém que não verá a luz do mundo. Entro num processo de solidão e muda, apenas me conduzem.

Toquem menos onde me dói tanto. Segurem minha mão que estendida encontra o vazio de mãos que não me atendem.

Matem minha sede de água e atenção.
Enxugem minhas lagrimas de dor e solidão.

Falem do meu filho e de como estamos. Não me deixem só, pois estou com medo.

Se é o meu primeiro, acham que sou jovem o suficiente para tê-lo. Quando mãe de muitos filhos, chamam-me de fraca e questionam "por que teve tantos?".

Nunca me comporto bem. Sinto-me impotente com tantas exigências.

Se meu filho custa a nascer na sala, sou a responsável por não ter mais forças. Sinto-me cansada, impotente e responsável naquilo que não der certo.

Tenho os filhos que amei e desejei, como também tenho os que não planejei. Sou traída por aquele com quem divido o leito e não respeita os limites da natureza.

Quero ser livre para ter meu filho, pois sei que sou capaz de tê-lo. Soltem as algemas que me prendem ao leito, para que eu possa soltar o corpo que ativamente se cobre de luz para dar a luz.

Quero ser apenas amada e respeitada. Que seja tirado dos meus ombros o peso do Edem, quando, no entardecer dividi com meu companheiro o suor do rosto e a dor do parto.


Gerusa Amaral de Medeiros
Enfermeira formada pela UnB, com especialização em Educação Sexual. Leciona e atua como enfermeira em Brasília, D

1 comentários:

Kawana de Campos disse...

passei pra dizer que seu blog esta lindo

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