quarta-feira, 17 de março de 2010

O Parto Hoje


Ter um filho hoje é uma tarefa heróica. As opções não são muito animadoras, se levarmos em conta o que nos é oferecido como "sugestões da casa"... Em vários lugares do mundo, o parto é visto de uma forma muito natural e simples, e nem por isso levianamente. Geralmente são os países com menores taxas de mortalidade materna e complicações no pós parto, como Japão, Holanda, Inglaterra, os países da Escandinávia, e outros tantos.

No Brasil chegamos ao auge da medicalização do parto, e nem por isso nossas taxas de mortalidade e morbidade estão diminuindo. Na maioria das maternidades privadas, as taxas de cesárea chegam a 80, 90 ou até 100%! As opções que se nos apresentam são poucas e desanimadoras: quando não é cesárea, é um parto normal repleto de intervenções... Eis como eles acontecem geralmente....

Cesárea
A cesárea, em muitas ocasiões, é a única opção para salvar as vidas de mãe e bebê. Mas nem sempre essa cirurgia tem sido usada dessa forma, haja visto as atuais taxas a que chegamos. Não parece razoável imaginar que 90% das pacientes de um determinado hospital tenham problemas para dar à luz...

Dentro desse quadro atual, a expectativa é que em qualquer fase do trabalho de parto, ou mesmo antes dele começar, o obstetra chegue à conclusão de que você deve fazer uma cesárea. Nessa hora, você deixa de ser uma parturiente, para ser uma paciente cirúrgica. Os cuidados com assepsia são redobrados. As complicações são mais possíveis por se tratar de uma cirurgia de grande porte, os riscos são maiores.
Quando fica decidido que deve ser feita a cesárea, você é levada ao centro cirúrgico e é colocada na mesa de cirurgia. Você recebe a anestesia peridural sentada ou deitada de lado. Deita de costas novamente e os dois braços ficam presos a suportes laterais, para que não haja riscos de você contaminar a região aberta.

Um suporte é erguido à frente de seu rosto para aumentar a assepsia e para que você não veja a operação. O obstetra faz o corte em várias camadas até chegar ao útero. O anestesista ou o auxiliar empurra sua barriga por cima, enquanto o obstetra puxa o bebê pelo corte. O bebê é mostrado a você e levado para a sala de pediatria neonatal. O obstetra então deve fechar o corte e nessa hora é comum você receber uma pequena dose de sedativo para dormir nesse final de cirurgia.

Você fica algumas horas em observação na sala de recuperação e depois vai para o quarto, para onde seu bebê é levado mais tarde para a primeira mamada.

Parto Normal na Rede Privada
Quando escolhemos ter um bebê numa determinada maternidade, estamos sujeitas às regras daquele estabelecimento. Cada um tem seus protocolos, suas regras e diretrizes. Mas existem muitas coisas em comum nessas condutas hospitalares. Há uma grande preocupação em se evitar riscos, contaminações, e obviamente processos judiciais! Leia a descrição das condutas hospitalares mais comuns num parto normal.

O que se nota nas últimas decadas é que as maternidades privadas estão ficando cada vez mais parecidas com hotéis. Existem serviços de quarto, restaurante 24 horas, horário livre para visitas, lojinhas de conveniência, TV, frigobar, recepcionistas elegantes, berçários bem decorados, quartos pintados com cores delicadas, quadros nas paredes. Telões para anunciar a chegada dos bebês, sala de espera acarpetada com sofás de couro. São grandes empresas, cada uma procurando seu lugar ao sol nesse grande mercado que é o nascimento de bebês.

O grande drama, no entando, é que nessas mesmas maternidades, os índices de cesárea giram em torno de 75% até 90%. O que seria um lugar para a mulheres darem à luz seus bebês, virou um grande centro de cirurgias obstétricas. O evento natural tranformado em evento cirúrgico.

Parto Normal na Rede Pública
A rede de saúde pública compreende hospitais do SUS, hospitais beneficentes e os universitários. Nessa gigantesca rede você pode encontrar desde tratamentos absolutamente desumanos e frios, até maternidades modelo com programas premiados de humanização do parto. Na somatória, existem menos vagas do que seriam necessárias para atender à população. É comum a mulher perambular por vários hospitais, em trabalho de parto, andando de ônibus ou taxi, em busca de uma vaga. Também é comum ela só ser admitida quando chega no período expulsivo.

Na grande maioria desses hospitais, o parto ainda é tratado da forma mais tradicional, onde depois de achar uma vaga, a mulher passa horas numa sala de pré-parto com mais outras mulheres, sem acompanhamento ou atenção especial, sem informação ou liberdade de movimentação. Quando chega a hora do bebê nascer, é levada à sala de parto, onde tem um tratamento impessoal e distante. Se grita ou chora, é recriminada.
Em grande parte desses hospitais as complicações são percebidas tardiamente, levando a problemas futuros para mãe ou para o bebê. O consolo é saber que existem brilhantes iniciativas pelo Brasil afora. Hospitais que atendem à população carente com carinho e atenção que lhe é devida. Locais onde cada mulher é tratada por seu nome, onde seus direitos são respeitados, onde sua saúde é decentemente cuidada, onde seus bebês são recebidos com dignidade.

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